Pensamento do Dia.... (só tem em inglês, desculpe)

Monday, March 10, 2008

A Barbearia

“Iala, iala ehme!”, dizia minha mãe puxando-me pela mão. Eu me distraía olhando para as casas no caminho. Para falar a verdade eu detestava que ela me segurasse pela mão. Eu não gostava que ninguém me segurasse pela mão. Me fazia parecer uma criancinha, e apesar de ser criança, quem disse que eu gostava que o mundo todo soubesse disso?

Neste dia em particular ela estava me levando para cortar o cabelo. Descemos a Rua Henrique Sertório e esperamos para cruzar o farol na Avenida Celso Garcia. O barbeiro ficava para a esquerda, do outro lado da avenida, numa porta de vidro perto da esquina.

Eu me lembro vividamente do lugar. Os móveis eram escuros e haviam cadeiras para se sentar enquanto se esperava a vez. Os potinhos para o creme de barbear eram de metal mas pareciam de porcelana com a pintura exterior branca. O pincel mostrava os anos de uso pela forma curvada que mantinha mesmo quando não estava repousando no potinho, como as pessoas que se curvam com o tempo. Talvez a vida seja a mão do barbeiro e nós o pincel. Ela esfrega a gente para lá e para cá, moldando a gente na espuma branca, morna e cheirosa dos momentos felizes ou na superfície áspera, às vezes marcada do rosto duro das dificuldades. Tudo bem, eu não pensei nada disso naquele dia, mas ficou bonito vai!

Continuando: o couro pendurado do lado da cadeira era lustroso de tantas vezes que o barbeiro havia passado a navalha nele para afiar. O som da navalha batendo no couro eu não ouvi nunca mais. Quantas vezes eu observei aquela navalha passar pelos rostos dos fregueses! Eu imaginava o dia em que eu teria que fazer a barba! O Gedo (meu avô Issa, ou Seo Luiz como o conheciam) tinha uma navalha, mas eu lembro quando um dia ele parou de usar a mesma e passou a fazer a barba com um barbeador da Gillete. O barbeador era daqueles que tinha que parafusar o cabo com uma bolinha sobre as duas partes que seguravam a lâmina. Se ele não se cortava eu com certeza não ia me cortar também. Ainda bem que eu tinha o Gedo para fazer os meus cálculos!

Na barbearia a minha mãe não entrava pois era um lugar para homens. Lugar de mulher era no salão de beleza, ou na cabeleireira. “Corta americano por favor” ela dizia. “Tudo bem dona Olga, pode voltar em uma hora” respondia o barbeiro. Às vezes demorava menos, mas não importava quanto tempo ia demorar, para mim sempre ia ser uma eternidade.

Eu ficava lá escutando as conversas sobre política, futebol e mulher. Pelo nível da conversa eu sabia porque ela nunca ficava. E quando tinha jogo de futebol era uma chatisse só! Eu nunca entendi o que o cara estava falando no rádio e aqueles senhores ficavam lá horas escutando aquela coisa, todos emocionados com o que estava acontecendo. Meu avô mesmo, tinha um radinho que ficava segurando no ovido e pela expressão dele parecia que ele estava vendo tudo lá no estádio. Na minha mente não estava acontecendo nada. Aliás, vou parar um pouco de falar de barbearia e vou falar de futebol ou do meu trauma com futebol.

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