Pensamento do Dia.... (só tem em inglês, desculpe)

Monday, March 10, 2008

Barbearia - Continuação: O corte americano!

Continuando o assunto da barbearia do qual comentei ateriormente, minha mãe pedia para o barbeiro cortar o meu cabelo tipo "americano." O corte americano era simples: bem curtinho, quase careca, e deixava um pouco de topete. Acho que quando eles diziam americano eles queriam dizer militar.

Quando chegava a minha vez o homem colocava uma tábua sobre os braços da cadeira e eu me sentava sempre confiante que não ia cair. Ele colocava um avental ao redor do meu pescoço que me cobria todo, depois um pano menor sobre o avental. Nunca entendi porque! Agora o tempo passou e não posso perguntar para ele. Devia ter perguntado... será um dos mistérios desta vida que nunca vou entender. Com o tempo também minha mãe passou a poder entrar no barbeiro (eu havia comentado que as conversas no barbeiro não eram apropriadas para uma mulher ficar lá. Todo mundo calava a boca e depois continuava assim que ela me deixava.). O tempo mudou as conversas e os direitos.

Durante o tempo todo eu me olhava e via meu rosto mudar com os anos. Eu nunca gostei do meu rosto para falar a verdade mas até que melhorou com os anos, devo admitir. Por muitos anos eu não sorri com a boca aberta porque me nasceu o dente canino do lado esquerdo, sobre os outros. Eu lembro do volume que fazia na minha boca. Ficar em frente do espelho vendo aquilo era uma tortura. Um dos melhores dias da minha vida foi quando minha mãe me levou para arrancar aquele dente. Depois daquilo eu podia sorrir e não ficava uma ponta de dente aparecendo do lado. Mas que a cadeira do barbeiro era tipo cadeira elétrica quando aquele dente cresceu, era!

Um dia não precisei mais da madeira no braço da cadeira, meu rosto estava à altura do espelho e eu já não cortava mais o cabelo americano. Quando eu parei de cortar cabelo americano e os anos sessenta e setenta pediam um corte mais comprido eu não sabia como arrumar o topete. Meu cabelo ondulava na frente e crescia de maneira completamente desordenada. Tentei dormir de meia na cabeça para ver se forçava o cabelo para tráz mas foi inútil. Ver o espelho sentado naquela madeira ou na maciez da poltrona não era um prazer. O meu cabelo era esquisito, e a distância entre meu nariz e minha boca era muita. Os meus olhos muito grandes, sempre quiz ter os olhos pequenos. Deu para perceber que eu não ia com a minha própria cara?

A única coisa do meu rosto que era certa era o nariz. Se eu pudesse mudar de cara toda e cabelo eu mudava... deixando o nariz intacto! Mas que fazer? Uns crescem se achando atraentes mesmo que não sejam, uns são perfeitos e não enchergam, uns se vêm sempre feios e atrapalhados (meu caso). Deviam tirar os espelhos dos barbeiros! Não adianta nada mesmo a gente ver o que eles estão fazendo! Não há controle nenhum! Se só eles vissem o trabalho que estão fazendo seria a mesma coisa e a gente não se torturava tanto.

Fui naquele barbeiro por muitos anos, mesmo depois, quando minha mãe já não tinha que me levar mais. Eu lembro dele mas o nome já se apagou da memória. Eu lembro dos bate papos, das vezes que ele errava e que eu não me importava porque meu cabelo sempre cresceu muito rápido. Não lembro quando foi a última vez que fui lá. Só sei que tudo desapareceu.

A cadeira se foi e com ela a madeirinha, o couro da navalha, o potinho e o pincel. Desapareceram as tesouras e a maquininha de fazer corte americano. E aqueles homens todos que discutiam tanto, muitos se foram deste mundo. . O tempo que come tudo e leva todos me deixou muitas memórias e mesmo as inconfortáveis para mim são preciosas.

Vejo a Aveninda Celso Garcia, beijada pelo sol da manhã, ouço o som barulhento dos ônibus parando nos pontos de ambos os lados tentando me distrair.

Parado em frente à barbearia, seguro firme a mão da minha mãe, e suspiro com saudade.

No comments: