Pensamento do Dia.... (só tem em inglês, desculpe)

Sunday, March 16, 2008

Nem tudo que parece pepino, pepino é!


Alguém já comeu bucha? Não estou falando de bucho que é algo que eu nunca comi e muita gente gosta. Estou falando de bucha vegetal de tomar banho!!! Eu comi e vou confessar aqui e agora!!! Considerando que sou eu com quem tanta coisa aconteceu porque não sou muito normal espero que ninguém duvide da história. Pena que minha tia Nair já faleceu porque ela poderia confirmar tudo rapidinho. Agora, antes de eu contar a história vamos estabelecer que todos sabem o que é uma bucha - mais exatamente a bucha vegetal. Como eu vou traduzir todos estes comentário para inglês vai ter gente que nunca viu uma (mas será que não tem jovens que nunca viram uma bucha? Pode ser! Humm... aqui vai)

Aí podem ver a bucha vegetal seca cortada em pedaços. Parece feinha mas era e não sei se é ainda popular no Brasil (digam aí vocês que moram no Brasil) mas a gente comprava na feira e usava para tomar banho. Depois inventaram as esponjas falsas mas a bucha vem sabe lá de que tempo. A bucha vegetal é fruto de uma trepadeira que tem o mesmo nome e possui flores e folhas verdes e amarelas, de origem africana e foi trazida ao Brasil pelos escravos. Aqui está o exemplo da tal flor que por sinal é muito bonita.


Para quem não sabe evoluiram com o tempo o jeito de vender bucha e eu estava olhando na internet e vi isso:








Como podem ver tem peruca de bucha, bucha em paninho para poder segurar melhor e boneca de bucha do Lampião e Maria Bonita.

Bom, o caso é o seguinte eu fui para Ferraz de Vasconcelos um dia na casa da minha tia Nair. Eu gostava de ir lá porque a maioria das ruas eram de terra e tinha muita coisa interessante para explorar que não era como as ruas de São Paulo, tinha árvore e ladeiras de terra assim que eu gostava de descer... mas detestava subir... mas gostava de tudo. Tinha um monte de primos lá também que eu adorava visitar e brincar. Mas um dia, eu não sei porque eu estava explorando a região sozinho. Numa rua lá que eu nem sabia mas não muito longe da casa da tia Nair eu vi uma vinha deste tipo:











Para quem nunca viu parece um pé de pepino. E foi exatamente o que eu pensei. Eu vi um monte de pepino pendurado nesta vinha e não pude resistir. Vocês acham que se o pepino está pendurado do lado da rua e você pega um é roubar? Eu espero que não. A vinha estava na cerca da casa e os "pepinos" estavam pendurados do meu lado dando-me o direito de pegar um, o que eu fiz sem pensar nem por um minuto. Não pensem que sou louco, vejam a cara da bucha antes de secar e ir para a feira!

Bom, mordi o tal "pepino" e logo vi que o sabor não estava bom. Pensei que era um pepino que não estava maduro. Levei comigo para a casa da minha tia e mostrei para ela. Eu lembro direitinho a cara dela rindo de mim. "Mineiro!" (era o meu apelido porque nasci em Minas Gerais) "Isso aí é bucha menino!" Ahahahahaha... eu não achei engraçado no dia mas lembro com carinho do momento. Ela ria e não acreditava que eu tinha mordido a bucha. Não sei como eu sobrevivi à minha infância. Tem muita história para contar aqui que se minha mãe estivesse viva e lesse ia desmaiar porque era um tal de cair de um muro aqui e perder o fôlego e ficar no chão estirado até voltar, coisa que mãe não pode saber... hehe. Mas da bucha ela ficou sabendo sim porque a tia contou. Agora estão avisados. Dá até para fazer um ditado:

Nem tudo que parece pepino, pepino é!

Friday, March 14, 2008

Perdidos no Espaço e Raul Seixas (sim, tem a ver!)

Eu gostava de um programa bem especial nos anos 60... Perdidos no Espaço. A foto aqui está colorida mas eu sempre vi mesmo foi em preto e branco. Não tivemos TV colorida até meados dos anos 70. Quer dizer, a nossa TV era colorida, mas a imagem era preto e branco. Eu acho que a TV era marrom, mas eu sou meio daltônico então podia ser outra cor. Só no começo dos anos 70 que um dos presidentes do governo militar do Brasil, um alemão chamado Ernesto Geisel, trouxe a transmissão a cores para o Brasil mas aí eu já estava no ginásio e demorou para comprar uma porque eram muito caras. Eu andava da minha casa para o Ginásio Estadual Parque São Jorge e assistia TV colorida pela vitrine das lojas na Avenida Celso Garcia mesmo.

Mas voltando ao Perdidos no Espaço eu via todos os episódios. Eu me imagina o Will Robinson lógico naquelas aventuras super incríveis nos planetas onde caíam quando conseguiam sair de um para outro. Mas tinha vez que ficavam um tempão num planeta. Acho que faltava grana para outros cenários mas eu não pensava assim... eu me concentrava nos alienígenas estranhos e muitas vezes divertidos que encontravam. Não entendia como o Doutor Smith era tão idiota. Ele só fazia besteira depois ficava lá chorando pedindo para o salvarem das encrencas em que se envolvia. Uma vez ficou todo prateado, bem poderoso, controlado por um exército de robôs iguais ao que eles mesmo tinham, só que miniaturas.

Mas o que eu queria mais era ter um robô daqueles que soltasse raios pelos ganchos que constituiam suas mãos!!! Hoje, tenho uma réplica daquele robô em meu cubículo no trabalho. Apesar de viajar muito, quando volto sempre encontro o robô esperando por mim no escritório. O meu robô miniatura diz o básico:

"Perigo! Perigo, Will Robinson!" (Danger, Danger, Will Robinson!)
"Não tem registro!" (That does not compute!)
"Aviso! Aviso!" (Warning! Warning!"

OK... podem dizer que essa mão não é minha, que eu peguei uma foto de miniatura na web, mas aqui vai a foto inteira e acho que dá para ver que estou mesmo no meu cubículo. Na verdade tenho mil brinquedos na pratelira do cubículo. Quem vê logo percebe que está difícil passar a fase da infância... hehe.

Esta foto aqui mostra a roupa deles de viajar. Eu bem que queria ter uma roupa assim que nem a do Will quando eles viajavam pelo espaço. Não me importo que parecia um pijama prateado. Um dia minha esposa vai entrar no quarto e me ver de pijama prateado assim e vai logo saber que cheguei à crise da meia idade... hehe. A mãe dela avisou, ela que não quiz ouvir...

Mas era com esta roupa que eles entravam naquele congelador deles e iam bem longe no disco voador. Não dá vontade de fazer isso de vez em quando? A vantagem do congelador é que você não envelhece. Já começa por aí. Depois tem a vantagem de não ter que pagar mais as contas, e sabe lá o que cada um gostaria de escapar se pudesse sair do planeta e visitar as estrelas. Aqui é que entra o Raul Seixas. Ele era um roqueiro dos anos 70 que eu adorava e le falou de disco voador em pelo menos duas de suas músicas. Aí eu logo me indentifiquei. Tenho minhas músicas favoritas tipo Guitá mas nestas duas em ele fala de disco voador e não podia de deixar incluir aqui já que estou falando do Júpiter 2.

Esta música do Raul Seixas se chama S.O.S.:


Ooo seu moço, do disco voador
Me leve com você, prá onde você fooooor!
Oo seu moço mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem tanta estrêla por aí..."

Aqui vai a música para quem quer saber do que estou falando ou só lembrar do Raul Seixas:



Ah, tem outra clássica que ele fala de disco voador bem no fim. Eu adorava esta música. Aqui está o verso no fim em que ele fala de disco voador:
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

Aqui está a música:


Voltando o disco voador do Perdidos no Espaço...

Teve episódios inesquecíveis, como quando eles voltam para a terra nos anos 50 e o doutor Smith diz que é de Cachoeirinho do Sul (queria saber quem inventou aquela tradução... foi ótima!). Lembro quando eles acharam a mulher andróide que acabou chorando e o mercador espacial foi convencido a não desmontá-la. Ele dava um tapinha da boca, afinava o bigode e dava uma batida com o sapato antes de marchar para seu transporte espacial. As máquinas de mercado interestelar eram incríveis. Umas caixas com uns gráficos bem baratos mas bem convincentes para gente da minha idade na época. Perdidos no Espaço me mantia no ar. Chocolates Dizziolli fizeram uma promoção onde se ganhava um disco voador que era igualzinho ao Jupiter 9. Eu nunca pude comprar ou ganhar um. Mas eu ia na venda do Alfredo e ficava olhando, pegava na mão, brincava por lá mesmo.

Um dia eu inventei uma revistinha que eu fazia à mão mesmo, com três folhas de papel sulfite. Aí eu dobrava no meio e costurava o vínculo na máquina de costura da minha mãe fazendo assim uma revista. Eu colocava palavras cruzadas que eu mesmo inventava, uma página para colorir, palavras em código, e histórias. Depois eu coloco a revista toda, mas aqui vão umas páginas que eu fiz com a história do Perdidos no Espaço do jeito que eu consegui desenhar lógico.

Abaixo está a página 1 da história do Perdidos no Espaço na minha revistinha feita a mão. O jeito que eu escrevo o nome deles é um absurdo... hehe.. e eu sou o Eduardo Robin (não dava para escrever Robinson porque tomava muito espaço). Aí vai:

Clique na imagem para ver mais de perto.
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Quando meu filho fez seu primeiro aniversário em 1986 o bolo foi o Júpiter 2, o disco voador da família Robinson. Fiz uma réplica do mesmo, com janela por onde se podia ver os computadores dentro. O disco voador era a caixa do bolo congelado que minha sogra havia feito. Os pedaços já estavam todos cortados, embrulhados em papel alumínio o que fez a festa parecer mais espacial. Acho que foi quando fechei o capítulo do disco voador que faltou quando eu era pequeno. Pena que não encontro a foto do Danny do lado do tal disco voador no dia do aniversário. Hummm. .. se un dia eu achar eu coloco aqui também.

Thursday, March 13, 2008

Nacional Kid!


Outro programa de televisão que eu não perdia era o Nacional Kid. O programa era japonês, tinha um cara que virava o Nacional Kid, que era gigante e usava uma roupa de borracha prateada (na verdade podia ser até amarela, mas a televisão era preto e branco, assim fiquemos no prateado mesmo). A máscara tinha um detalhe especial nos olhos como um óculos de sol gigante. A gente fazia a máscara do Nacional Kid colocando o polegar e o indicador em forma de círculo, colocando os círculos sobre os olhos e virando a palma da mão contra a testa... ficava igualzinho! Olha aqui, vou dar um exemplo que assim você pode fazer também e mostrar para os amigos numa reunião de negócios para fechar um contrato, num restaurante chique, num casamento, onde queira:

Bom, o Nacional Kid lutava sempre com aqueles monstros de borracha que viviam destruindo Tokio. Acho que Tokio foi reconstruída mais de mil vezes bem rápido porque cada capítulo trazia outra lagartixa gigante e irritada para o Nacional Kid destruir. Ele cruzava a mão e saía um raio que acabava com os bichos, mas antes de usar a arma letal ele dava bastante pancada e pontapé... um pouco mais lento que a velocidade normal dos movimentos quando ele tinha tamanho normal. De vez em quando ele se virava bem rápido, mas quando ele ficava em slow motion aí ele não estava para brincadeira. Ah... a televisão sempre foi violenta!

Mas tinha os Incas Venuzianos! Como era o nome daquela alienígena sexy e maligna? Humm, não lembro mais, mas ela era ótima. Lembro quando ela quiz pegar a bomba de cobalto que os japoneses haviam inventado e curava tudo, ou dava muita energia à cidade, sei lá, e ela se azarou. Sei que era importante e ela fazia de tudo para pegar a tal bomba de cobalto. Lembro quando os discos voadores dos Incas Venuzianos se foram porque ela perdeu para o Nacional Kid. Foi um dia muito bom... eu já estava cansado deles. E quem inventou o conceito de Incas Venuzianos? Que mistura!!! Não tenho visto imaginação assim já fazem anos!

Veja a apresentação do programa. Eu até cantava para a Dona Maria, uma vizinha que morava na vila do lado. Ela era japonesa e em vez de chamar a minha mãe de Olga ela dizia "Orega." Amávamos a Dona Maria! Mas falo dela depois. Esta é a musiquinha que eu cantava para ela e que nunca saiu da minha cabeça:

Monday, March 10, 2008

Barbearia - Continuação: O corte americano!

Continuando o assunto da barbearia do qual comentei ateriormente, minha mãe pedia para o barbeiro cortar o meu cabelo tipo "americano." O corte americano era simples: bem curtinho, quase careca, e deixava um pouco de topete. Acho que quando eles diziam americano eles queriam dizer militar.

Quando chegava a minha vez o homem colocava uma tábua sobre os braços da cadeira e eu me sentava sempre confiante que não ia cair. Ele colocava um avental ao redor do meu pescoço que me cobria todo, depois um pano menor sobre o avental. Nunca entendi porque! Agora o tempo passou e não posso perguntar para ele. Devia ter perguntado... será um dos mistérios desta vida que nunca vou entender. Com o tempo também minha mãe passou a poder entrar no barbeiro (eu havia comentado que as conversas no barbeiro não eram apropriadas para uma mulher ficar lá. Todo mundo calava a boca e depois continuava assim que ela me deixava.). O tempo mudou as conversas e os direitos.

Durante o tempo todo eu me olhava e via meu rosto mudar com os anos. Eu nunca gostei do meu rosto para falar a verdade mas até que melhorou com os anos, devo admitir. Por muitos anos eu não sorri com a boca aberta porque me nasceu o dente canino do lado esquerdo, sobre os outros. Eu lembro do volume que fazia na minha boca. Ficar em frente do espelho vendo aquilo era uma tortura. Um dos melhores dias da minha vida foi quando minha mãe me levou para arrancar aquele dente. Depois daquilo eu podia sorrir e não ficava uma ponta de dente aparecendo do lado. Mas que a cadeira do barbeiro era tipo cadeira elétrica quando aquele dente cresceu, era!

Um dia não precisei mais da madeira no braço da cadeira, meu rosto estava à altura do espelho e eu já não cortava mais o cabelo americano. Quando eu parei de cortar cabelo americano e os anos sessenta e setenta pediam um corte mais comprido eu não sabia como arrumar o topete. Meu cabelo ondulava na frente e crescia de maneira completamente desordenada. Tentei dormir de meia na cabeça para ver se forçava o cabelo para tráz mas foi inútil. Ver o espelho sentado naquela madeira ou na maciez da poltrona não era um prazer. O meu cabelo era esquisito, e a distância entre meu nariz e minha boca era muita. Os meus olhos muito grandes, sempre quiz ter os olhos pequenos. Deu para perceber que eu não ia com a minha própria cara?

A única coisa do meu rosto que era certa era o nariz. Se eu pudesse mudar de cara toda e cabelo eu mudava... deixando o nariz intacto! Mas que fazer? Uns crescem se achando atraentes mesmo que não sejam, uns são perfeitos e não enchergam, uns se vêm sempre feios e atrapalhados (meu caso). Deviam tirar os espelhos dos barbeiros! Não adianta nada mesmo a gente ver o que eles estão fazendo! Não há controle nenhum! Se só eles vissem o trabalho que estão fazendo seria a mesma coisa e a gente não se torturava tanto.

Fui naquele barbeiro por muitos anos, mesmo depois, quando minha mãe já não tinha que me levar mais. Eu lembro dele mas o nome já se apagou da memória. Eu lembro dos bate papos, das vezes que ele errava e que eu não me importava porque meu cabelo sempre cresceu muito rápido. Não lembro quando foi a última vez que fui lá. Só sei que tudo desapareceu.

A cadeira se foi e com ela a madeirinha, o couro da navalha, o potinho e o pincel. Desapareceram as tesouras e a maquininha de fazer corte americano. E aqueles homens todos que discutiam tanto, muitos se foram deste mundo. . O tempo que come tudo e leva todos me deixou muitas memórias e mesmo as inconfortáveis para mim são preciosas.

Vejo a Aveninda Celso Garcia, beijada pelo sol da manhã, ouço o som barulhento dos ônibus parando nos pontos de ambos os lados tentando me distrair.

Parado em frente à barbearia, seguro firme a mão da minha mãe, e suspiro com saudade.

Futebol e Eu

Aqui vai o hino do Corínthians para quem quizer escutar:


Gente eu devia falar como é que eu sou Corinthiano e tudo. Eu sempre me considerei Corinthiano e gosto quando o time ganha. Eu fiquei triste com a história da segunda divisão. Para mim o Corínthians é uma instituição nacional, é mais que um time. Para alguns é uma religião. Para outros a própria vida. Para mim é parte da minha vida que não tenho como dizer que não é apesar de ser um zero à esquerda no tema de futebol.

Eu sempre estive rodeado de Corinthiano. Pela influência toda eu deveria ser Corinthiano roxo mas eu sou meio daltônico então nem isso eu jamais conseguiria ser. Aqui vai minha confissão:

Minha inaptidão para futebol sempre me fez sentir metade e acho que eu era considerado incompleto por amigos e parentes neste sentido. Pelo menos que eu era considerado inferior pelos meninos que sabiam jogar bola e eu não, eu não tenho dúvida.

Que tipo de menino não entende de futebol? No Brasil você tem que saber jogar futebol e tem que saber falar de futebol. Eu nunca decorei nomes de jogadores nem as regras do jogo. Uma pena mesmo, mas eu achava que ler sobre Júlio César era mais interessante, que desenhar até o desenho parecer realidade era mais emocionante. E eu não sei se acabei gostando mais de arte e literatura porque não gostava de futebol ou se era porque eu não queria parecer ridículo. Quando a gente não consegue fazer direito a gente tem a tendência de evitar e parte para outra. Confesso que em se tratando do esporte nacional eu fracassei.

Eu me lembro claramente dos comentários que faziam quando eu corría ou andava. Por alguma razão as pessoas riam. Minha mãe, meus primos, minhas irmãs, meu irmão, meus amigos da rua ou da escola, todos pelo menos uma vez me criticaram ou riram de como eu andava ou corria. Era só eu correr que diziam que eu corria errado. Jogando bola eles diziam que eu chutava errado. Nunca me disseram como era o certo. Então eu ficava na minha e eles na deles. Sempre tive e ainda tenho trauma de correr porque penso que estão olhando e pensando, já que agora não vão dizer, que estou correndo errado.

Na escola os professores de educação física vagabundos que eu tinha, em vez de dar exercícios deixavam os alunos jogar futebol. Quem estiver lendo isso no Brasil pode ir na escola e ver se algo mudou nos últimos 30 e tantos anos. A gente fazia um pouco de exercício e depois era futebol para minha tortura... mais “está correndo errado” e mais “chuta a bola meio de lado” coisas abstratas e irritantes. Era uma tortura quando o professor escolhia um capitão para cada time e eles tiravam par ou ímpar para escolher quem ia participar do time. Eu sabia que quando um amigo me escolhia era só porque era amigo. Na hora do jogo eu evitava a bola o mais que podia. Se passava por perto eu passava para outro imediatamente e ainda assim tinha que me concentrar muito.

No dia que me mandaram “pegar a bola” (isso já foi no ginásio e eu não podia ter dado um fora maior) eu abaixei e peguei a bola com a mão!!! Foi um desastre! Estavam todos com raiva e daquele dia em diante o professor vagabundo me colocava só para assistir. Tanto melhor! As poucas vezes que a gente corria eu até que fazia algo. Um dia até me destaquei no salto a distância, mas ginástica era para rico que ia treinar para olimpíada, não era para os estudantes do Colégio Estadual Osvaldo Catalano.

Ainda bem que aquela tortura acabou e não tive que participar mais de nenhum jogo forçado. Eu nunca iria aprender a andar, correr ou chutar bola... para que aprender as regras do tal jogo? Se o tempo voltasse eu não acho que faria diferente. Ninguém realmente parou para com sinceridade me ensinar: meu irmão não ensinou, meus primos não ensinaram, nenhum tio, nenhum amigo. Talvez eles soubessem que futebol não se ensina e por isso não perderam seu tempo. Eu acho que vem no sangue e o meu devia ser talhado para futebol. Também eu acho mesmo que o problema era andar e correr mesmo e ninguém ia mudar minhas pernas então acho que todos simplesmente deixavam para lá. Eu era um caso perdido neste sentido. Mas eu não cresci com raiva deles por isso. O problema era meu, não era deles. Feliz de quem nasce andando direito e pode jogar bola no Brasil.

Talvez se meu pai tivesse ficado na história teria me ensinado. Na minha cabeça crescendo sem ele, eu sempre achei que ele não jogava futebol. Não foi até 2003 quando entrevistando o tio Jinho ele me disse que meu pai jogava futebol. Demorou 45 anos para eu saber isto sobre o meu pai! Pelo menos na minha mente o meu pai não jogava futebol! Se ele estivesse em casa enquanto eu crescia eu o imagino alguém que estaria lendo. Se ele estivesse na barbearia ele falaria de política e mulher e ficaria calado na hora do futebol. Mas eu o imaginava também como alguém que não falava então ele também não ia me ensinar mesmo se não nos tivesse deixado.

Meu destino era mesmo sair do Brasil no fim das contas e ir para um lugar onde nem no barbeiro se fala de futebol: Estados Unidos – onde eu fui parar. De tanto cortar o cabelo americano um dia eu ia acabar cortando o cabelo americano todos os dias e não falar de futebol nunca.

Quando eu vou ao Brasil é disso que falo com a minha irmã Joceli, Corinthiana roxíssima! Até saiu num noticiário chorando lá no estádio porque um dia o Corínthians perdeu. Foi até no aniversário dela, tadinha, mas como toda boa corinthiana ela sobreviveu. Um dos momentos mais emocionantes foi quando descobri que um dos irmãos do meu avô estava vivo, o tio Jamil Feres que até havia sido diretor lá no Corínthias por muitos anos na década de 40. Mais recentemente conheci um primo que era Vice Presidente Administrativo do Corinthians -- o Antorio Jorge Rachid Jr. -- que me deu umas lembranças do Corínthians em 2007, me mostrou as relíquias do clube e tudo. Não jogo futebol, não entendo o esporte, mas tenho gente bem chegada ao tema. Salve o Corínthians!!! (No bom sentido, claro!)

Aqui vai o hino do Corínthians para quem quizer escutar: Hino to Timão!!!!

A Barbearia

“Iala, iala ehme!”, dizia minha mãe puxando-me pela mão. Eu me distraía olhando para as casas no caminho. Para falar a verdade eu detestava que ela me segurasse pela mão. Eu não gostava que ninguém me segurasse pela mão. Me fazia parecer uma criancinha, e apesar de ser criança, quem disse que eu gostava que o mundo todo soubesse disso?

Neste dia em particular ela estava me levando para cortar o cabelo. Descemos a Rua Henrique Sertório e esperamos para cruzar o farol na Avenida Celso Garcia. O barbeiro ficava para a esquerda, do outro lado da avenida, numa porta de vidro perto da esquina.

Eu me lembro vividamente do lugar. Os móveis eram escuros e haviam cadeiras para se sentar enquanto se esperava a vez. Os potinhos para o creme de barbear eram de metal mas pareciam de porcelana com a pintura exterior branca. O pincel mostrava os anos de uso pela forma curvada que mantinha mesmo quando não estava repousando no potinho, como as pessoas que se curvam com o tempo. Talvez a vida seja a mão do barbeiro e nós o pincel. Ela esfrega a gente para lá e para cá, moldando a gente na espuma branca, morna e cheirosa dos momentos felizes ou na superfície áspera, às vezes marcada do rosto duro das dificuldades. Tudo bem, eu não pensei nada disso naquele dia, mas ficou bonito vai!

Continuando: o couro pendurado do lado da cadeira era lustroso de tantas vezes que o barbeiro havia passado a navalha nele para afiar. O som da navalha batendo no couro eu não ouvi nunca mais. Quantas vezes eu observei aquela navalha passar pelos rostos dos fregueses! Eu imaginava o dia em que eu teria que fazer a barba! O Gedo (meu avô Issa, ou Seo Luiz como o conheciam) tinha uma navalha, mas eu lembro quando um dia ele parou de usar a mesma e passou a fazer a barba com um barbeador da Gillete. O barbeador era daqueles que tinha que parafusar o cabo com uma bolinha sobre as duas partes que seguravam a lâmina. Se ele não se cortava eu com certeza não ia me cortar também. Ainda bem que eu tinha o Gedo para fazer os meus cálculos!

Na barbearia a minha mãe não entrava pois era um lugar para homens. Lugar de mulher era no salão de beleza, ou na cabeleireira. “Corta americano por favor” ela dizia. “Tudo bem dona Olga, pode voltar em uma hora” respondia o barbeiro. Às vezes demorava menos, mas não importava quanto tempo ia demorar, para mim sempre ia ser uma eternidade.

Eu ficava lá escutando as conversas sobre política, futebol e mulher. Pelo nível da conversa eu sabia porque ela nunca ficava. E quando tinha jogo de futebol era uma chatisse só! Eu nunca entendi o que o cara estava falando no rádio e aqueles senhores ficavam lá horas escutando aquela coisa, todos emocionados com o que estava acontecendo. Meu avô mesmo, tinha um radinho que ficava segurando no ovido e pela expressão dele parecia que ele estava vendo tudo lá no estádio. Na minha mente não estava acontecendo nada. Aliás, vou parar um pouco de falar de barbearia e vou falar de futebol ou do meu trauma com futebol.